As informações não podem ser sonegadas

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*Pedro Mancuso

Posso dizer que o colapso no sistema Cantareira ocorreu por uma única causa: falta de planejamento da concessionária. Atualmente, as modernas empresas de saneamento adotam um Plano de Segurança da Água (PSA). Entendemos o PSA como um sistema quali-quantitativo e não somente qualitativo.
 

Aqui no Brasil, a portaria 2914, do Ministério da Saúde, prescreve o plano com detalhes, embora enfatize bastante os aspectos qualitativos. Como a concessionária se acredita acima do bem e do mal, não o implantou. Se implantou, foi concebido de forma errada. E se foi concebido de forma errada, não conseguiu atingir os objetivos. Assim sendo, toda a população da região metropolitana de São Paulo será penalizada por causa disso.

Obviamente o monitoramento prévio do regime dos rios e as análises meteorológicas permitiriam à Sabesp se antecipar ao problema. A concessionária teria tempo suficiente para implantar um plano B. A pergunta que não quer calar é a seguinte: Qual o plano B da concessionária?

 A área de planejamento da concessionária certamente já detectou a necessidade de prospectar outras reservas de captação há algum tempo. Entretanto, os investimentos nunca foram feitos porque o impacto na distribuição dos dividendos das ações da empresa seria muito grande.

Como a empresa não tem um viés de Saúde Pública, mas de uma empresa que comercializa água e coleta e tratamento de esgotos, nunca se preocupou com os impactos na saúde da população.

Hoje, conforme a pergunta da revista, colocadas as condições que estamos vendo, acredito que no curto prazo (em um ou dois meses) não há o que fazer. Toda a população espera uma chuva que pode não vir. Mas medidas emergenciais devem ser pensadas já. Entre essas medidas estou listando:

Não sonegar informações importantes à população. A informação é a melhor defesa do consumidor (será que a empresa entende dessa forma, sem uma intervenção do Ministério Público?).

• Adequação e reaparelhamento dos hospitais para atendimento de doenças de veiculação hídrica.

• Informação clara sobre o regime de distribuição de água (seja lá o nome que se queira dar: racionamento, diminuição de pressão nas tubulações, rodízio etc. Como se a exatidão do termo adotado resolvesse o problema).

• Análise e comunicação de risco, por parte da concessionária (eles sabem o que é isso?).

*Pedro Mancuso é professor da Faculdade de Saúde Pública da USP

Fonte: Revista O Empreiteiro


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