Willy Alvarenga Lacerda*
A água é essencial para a vida. Porem, em excesso, complica e muito a vida dos seres humanos. No mar, as tempestades com os seus furacões e, os terremotos e as ondas gigantescas que devastam cidades litorâneas.
E as chuvas, quando em grande volume e intensidade, desencadeiam nos continentes os fenômenos naturais que todos nós conhecemos – as enchentes e os escorregamentos de terra.
Os rios recolhem as águas de chuva, e correm em seus leitos. No entanto, quando a chuva é excepcional, as margens usuais não comportam a vazão de água, e o rio cobre as planícies, chamadas de "leito maior". É, portanto, um fato sabido que as enchentes transbordam das margens nessas ocasiões, e as construções erguidas neste "leito maior" estão sujeitas a inundações periódicas. O pior acontece quando, num rio que possui barragens a montante, estas barragens rompem, dando origem a uma onda devastadora, um verdadeiro tsunami de água doce, que arrasta as construções e estradas.
O mais sensato é:
a) Evitar construir neste leito maior;
b) Erguer diques marginais ao longo das margens, com altura suficiente para conter as enchentes excepcionais;
c) Construir uma série de barragens a montante, que amorteçam as cheias.
Todas estas ações dependem do governo, seja federal, estadual ou municipal.
A mesma coisa ocorre nas encostas. Nestas, a fragilidade geológica expõe os moradores a escorregamentos de vários tipos, sendo os eventos de "corrida de detritos" os mais devastadores. É uma onda viscosa, com lama, árvores, detritos de toda espécie, carreadas pelo caudal que desce em grande velocidade pelos canais naturais.
De novo, a ação governamental aqui é decisiva. Numa cidade ou Estado onde não há Carta Geotécnica e Mapas de Risco para orientar o ordenamento urbano, só temos duas opções: construir locais onde os moradores deslocados pela tragédia tenham abrigo digno (que não sejam escolas ou ginásios, por favor) e adotar um sistema de Alerta de chuvas intensas, como o operado pela Geo-Rio na cidade do Rio de Janeiro.
*Willy Alvarenga Lacerda é professor titular da COPPE/UFRJ, ex-presidente da ABMS e coordenador do INCTR de Reabilitação do Sistema Encosta-Planície (REAGEO)
Fonte: Estadão