Colares de pedra e pontile

Compartilhe esse conteúdo

Minas Gerais, com enorme potencial hidráulico, formou grandes barrageiros

A história das hidrelétricas no Brasil começou em Minas Gerais com pequenas usinas, mas recebeu um grande impulso da década de 50, quando surgiram projetos com maior capacidade. Foi nessa época que a Cemig foi criada, há exatos 50 anos, inicialmente com o nome de Centrais Elétricas de Minas Gerais, mais tarde modificada para Companhia Energética de Minas Gerais.

Uma usina que se destacou nos anos 50 foi Salto Grande, situada entre os rios Santo Antônio e Guanhães, a 280 km de Belo Horizonte. Salto Grande tem potência instalada de 102 MW e começou a operar em 1956, tendo representado um desafio na época devido à complexa execução de túneis ligando os dois rios. Outra hidrelétrica iniciada nos anos 50 foi a Bernardo Mascarenhas, mais conhecida como Três Marias, que entrou em operação em 1962.

Os primeiros estudos para o aproveitamento do rio São Francisco nesse trecho foram desenvolvidos pela Comissão do Vale do São Francisco (CVSF), organizada em 1948 pelo governo federal para desenvolver um plano desenvolvimento econômico para a região. A Servix Engenharia desenvolveu um anteprojeto em meados da década de 50 e em seguida foram feitos estudos complementares pela Cemig e a CVSF. Coube à International Engeneering Company Inc. (leco) desenvolver o projeto definitivo de Três Marias, que foi construída pelos consórcios Companhia Construtora Corinto e Companhia Construtora Três Marias, formados pelas empresas Utah Construction Company e Morrison-Knudsen, com apoio financeiro do governo federal, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (na época ainda BNDE), do Eximbank e da própria Cemig. Três Marias, com 396 MW, foi um marco no início da década de 60 porque possui um reservatório de uso múltiplo, que além de gerar energia viabilizou a navegação do rio São Francisco nas épocas de seca e ainda ajudava no abastecimento da região.

Na década de 60 muitas usinas foram construídas com apoio do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas e do Banco Mundial, que levantou o potencial hidráulico dos rios e definiu os projetos mais viáveis. Surgiram várias hidrelétricas nesse período, como Jaguara, Volta Grande, São Simão, Emborcação e Nova Ponte.

Jaguara, por exemplo, situado no rio Grande, na divisa de Minas Gerais e São Paulo, distante cerca de 350 km de Belo Horizonte, foi beneficiada pela regularização do reservatório de Furnas, que garantiu seu funcionamento o ano todo. Os primeiros estudos foram desenvolvidos pela Ebasco Services Incorporated em 1961 e dois anos depois complementados pelo grupo de trabalho formado pela Cemig e a Canambra Engineering Consultants. Mas o detalhamento do projeto coube ao consórcio formado por Eletroprojetos, Electro,Watt e Geotécnica e a construção ficou com a Mendes Júnior, que começou a obra em 1966 e enfrentou uma série de dificuldades para fechar os canais profundos para o desvio do rio.

Os canais tinham profundidade média de 25 m, mas um atingia 40 m e a água passava por eles muito turbulenta e a grande velocidade. Para complicar ainda mais, a formação geológica não ajudava na obtenção de matacões e foi preciso modificar os trabalhos de desmonte para obter pedras de tamanho satisfatório. Para fechar o primeiro canal, foram necessárias 72 horas de trabalho e os técnicos viam os matacões de 1,5 a 2 m de diâmetro serem levados pelas águas com facilidade. Uma das soluções encontradas pela Mendes Júnior foi construir um tetraedros com trilhos de bondes que eram mantidos no local por cabos ancorados nas margens e serviam de anteparo às pedras que caíam, impedindo a correnteza de arrastá-las. Mas outras artimanhas foram usadas, como criar “colares de pedra”, formados por matacões que eram furados e unidos por um cabo de aço que, ao serem lançados na correnteza, formavam um bloco maciço.
Josilis Mendes de Castro Veloso, que na época trabalhava na Mendes Junior como assistente do superintendente da obra, lebra que o uso de cabos aéreos para lançamento de concreto – naquele tempo algo inédito no País – agilizou muito o serviço. Os cabos também permitiram o deslocamento de fôrmas deslizantes e ainda ajudaram no transporte de ferragens para o concreto armado, tornando toda a obra mais rápida.

Como a Cemig precisava que a hidrelétrica começasse a gerar energia rapidamente, resolveu criar um programa com prêmios em dinheiro para a construtora, sempre que esta adiantasse a obra. A concessionária montou um sistema com “marcos e eventos”, ou seja, etapas bem detalhadas da construção que deveriam ser concluídas em determinado prazo. “Ganhamos 100% dos prêmios oferecidos pela Cemig”, lembra Veloso. Com isso, Jaguara, que tem 358 MW de potência instalada, começou a gerar energia em 1970 e no ano seguinte teve suas obras totalmente concluídas.

Já São Simão, usina de 1.710 MW que entrou em operação em 1978, ainda hoje (2002) é a maior da Cemig. A usina foi construída pelo consórcio Impregilo/C.R.Almeida no rio Paranaíba, entre os estados de Minas Gerais e Goiás, com projeto elaborado pela Geotécnica e a Companhia Internacional de Engenharia (CIE).

O engenheiro Ronaldo Martins entrou na Cemig em 1975 e participou da obra. Ele conta que a usina está situada numa das pontas do chamado Triângulo Mineiro e na época havia pouca estrutura de apoio na região, dificultando a execução dos serviços. Ele lembra também que os engenheiros italianos trouxeram técnicas diferentes de construção, como o pontile, uma ponte construída ao longo da barragem para lançamento de concreto que imprimia alta produtividade à execução do serviço. O uso de escavadeiras elétricas da Impregilo também chamava a atenção ao substituir as tradicionais, de pneus, aumentando muito a produtividade na obra.

A Cemig que em 1952 gerava apenas 12,9 MW, encerrou o ano de 2000 com 5.514 MW de potência instalada, número que deverá aumentar substancialmente com a entrada em operação e a finalização de várias hidrelétricas atualmente em obras (2002), como Irapé, Porto Estrela (a primeira unidade começou a gerar energia em setembro passado – 2002), Queimado, Funil, Aimorés, Irapé, Pai Joaquim, Complexo Capim Branco I e II e Traíra. (L.M)

 

Fonte: Padrão


Compartilhe esse conteúdo

Deixe um comentário