A construção da primeira etapa de Tucuruí foi dificultada pela natureza exuberante da floresta Amazônica
“Este é um belo momento (…). O tempo de abertura desta vasta área ao progresso e à modernização. Obra desta importância só poderia ser realizada com a integração de muitas inteligências, de muito trabalho, de muita vontade. Tucuruí, mais do que uma hidrelétrica, é um monumento à capacidade e à coragem do homem brasileiro.” Com estas palavras, o então presidente da república João Baptista Figueiredo inaugurou, em 1984, a hidrelétrica de Tucuruí, encravada no Pará, cerca de 300 km de Belém.
A usina, de 4.200 MW, começou a ser construída em 1976, em plena selva Amazônica. “Tucuruí é a obra mais interessante de que a Themag participou. Foi um desafio logístico. As duas jóias da engenharia de hidrelétricas no Brasil são Itaipu e Tucuruí, mas esta é a mais espetacular”, conta o professor Milton Vargas. Ele se recorda que num evento realizado no Rio de Janeiro, reunindo engenheiros de várias partes do mundo, foi passado um filme mostrando, além das obras de usina, os serviços para implantar a linha de transmissão até Belém. “Os engenheiros ficara surpresos com a imagem dos helicópteros transportando torres de transmissão por cima da selva Amazônica”, conta Vargas.
Infra-estrutura complexa
Os primeiros estudos de Tucuruí foram desenvolvidos em 1964 e quatro anos depois o Departamento Nacional de Portos e Vias Navegáveis realizou novos levantamentos no local, assim como o Comitê Coordenador dos Estudos Energéticos da Amazônica (Eneram). Mas em 1973, com a criação da Eletronorte, esta ficou encarregada de levar os estudos adiante e contratou os projetos executivos ao consórcio Engevix-Themag e as obras civis foram entregues à Camargo Corrêa, que em novembro de 1975 iniciou a execução da usina. Os equipamentos foram adquiridos da Neyrpic/Mecânica Pesada, Jeunont, Brown Boveri, General Electric e Vigesa.
Os desafios enfrentados foram inúmeros. Para construir a usina, por exemplo, foi necessário instalar uma vila residencial que chegou a ter 50 mil habitantes, além de dois portos, um aeroporto e uma termelétrica de 43 MW. Mas os problemas não pararam por aí. Além do desafio de construir uma usina em plena selva Amazônica, a natureza ainda desafiou mais uma vez a obra, que enfrentou a maior enchente na região dos últimos 100 anos.
As condições do subsolo também não puderam ser detectadas corretamente apenas com as investigações iniciais e a definição dos critérios de execução das fundações em cada setor teve que aguardar as escavações obrigatórias das estruturas de concreto. Só assim foi possível observar com detalhes os taludes rochosos na região. Construir Tucuruí não foi fácil também pelos grandes volumes envolvidos, numa região de difícil acesso. Só o lançamento de concreto chegou a 190 mil m3/mês e o de argila, em agosto de 1983, bateu 2.497.791 m3, um recorde mundial.
Paredão
Embora Tucuruí seja a hidrelétrica de destaque na região Norte, vale lembrar da pequena Coaracy Nunes, também conhecida como Paredão com 42 MW de capacidade. Instalada no rio Araguari, no Amapá, a usina começou a operar em 1975. Inicialmente, as obras ficaram a cargo da Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA), mas em 1974 foram transferidas para a Eletronorte. A Eletroconsult foi responsável pelo projeto e fiscalização, a Ecel executou as principais obras civis, enquanto a Conterpa e a C.R. Almeida foram responsáveis pela construção do vertedouro, e a Technit fez a montagem eletromecânica. (L.M.)
Fonte: Padrão