Explorar as vocações regionais

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Sim. Nos últimos anos, o país tem registrado resultados favoráveis em vários setores, o que dá origem a expectativas otimistas para as próximas décadas. O controle da inflação, a dívida líquida em queda e sucessivos superávits comerciais sinalizam o alcance da estabilidade monetária, responsabilidade fiscal e baixa vulnerabilidade externa que são o pilar de uma trajetória de crescimento econômico sustentável. Os bons resultados na economia nacional vêm refletindo positivamente no mercado de trabalho, criando empregos e promovendo a inclusão dos menos favorecidos. A exclusão social ainda é combatida através das políticas de redistribuição de renda que, integradas à política econômica disciplinada, colocam o País no caminho para o desenvolvimento sustentável, ao fomentar simultaneamente crescimento econômico e justiça social.

No entanto, ainda restam muitos desafios. É absolutamente indispensável que o governo se comprometa tanto com a reforma tributária quanto com as outras reformas estruturais que urgem (previdência, judiciária), indo além de medidas meramente paliativas, dado que a estrutura atual do sistema representa um entrave ao processo de desenvolvimento do País. É, ainda, de fundamental importância que o investimento continue se expandindo para superar os principais obstáculos à sustentabilidade do crescimento econômico no país: a limitação da infra-estrutura e do capital humano.

A concentração dos investimentos em infra-estrutura física e energética promove o dinamismo, permitindo uma maior integração do espaço econômico nacional e garantindo os recursos energéticos para o setor produtivo. Não menos importante está o investimento em infra-estrutura social que, ao garantir o saneamento básico, acesso à moradia, acesso à alimentação e acesso à escola, reduz a desigualdade social e possibilita um salto qualitativo no nível da mão-de-obra, colocando à disposição do setor produtivo trabalhadores mais bem qualificados. Tão importante quanto o direcionamento dos recursos públicos, o foco na qualidade e eficiência do gasto é essencial para maximizar a probabilidade de que o investimento alcance os objetivos desejados.

É importante que as heterogeneidades regionais do Brasil sejam levadas em conta na formulação do plano de desenvolvimento nacional. É importante direcionar os investimentos de acordo com as vantagens comparativas para que as potencialidades regionais sejam exploradas, maximizando a contribuição de cada região para o País como um todo e, ao mesmo tempo, respeitando a estrutura de cada lugar. Enquanto é nítida a vocação da região Centro-Oeste para a agroindústria, no caso da Amazônia existem diversas potencialidades regionais que também precisam ser exploradas. Contudo, conciliar atividade produtiva com as questões ambientais é um desafio. É possível, no entanto, que atividades rentáveis como a bioindústria e o turismo coexistam harmoniosamente com o meio ambiente, auxiliando o desenvolvimento sem comprometer a preservação do patrimônio.

O êxito alcançado nos últimos anos, tanto na esfera econômica quanto na social, demonstra que o Brasil está no caminho do desenvolvimento. Ainda são muitos os obstáculos, mas, se o governo conseguir potencializar as conquistas até agora obtidas, o País poderá garantir o futuro das próximas gerações. A manutenção da estabilidade macroeconômica e a presença de agências de regulação eficientes, combinados com um sistema de tributação coerente, aumentam a credibilidade do país, não só atraindo capital nacional e estrangeiro, mas direcionando-os para o setor real da economia. Ao promover o investimento, os mecanismos de mercado resultam em crescimento econômico que, por sua vez, gera emprego. Por outro lado, o governo tem ainda o importante papel de prover bens públicos de qualidade e praticar políticas sociais que impeçam a marginalização na sociedade daqueles excluídos do mercado.
O investimento em educação é prioritária para garantir o futuro dos jovens. Paralelamente, faz-se necessário investimentos em ciência, tecnologia e inovação, visando aumentar a produtividade da economia como um todo e promover a competitividade nacional.

*Ricardo Luís Santiago, funcionário de carreira do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) desde 1980, é formado em economia pela Universidade Federal de Minas Gerais, mestre e doutor em economia pela Universidade de Vanderbil dos EUA e pós-doutor em economia pela University College, Universidade de Londres. Desde novembro de 2007 preside a Fundação João Pinheiro em Minas Gerais

Fonte: Estadão


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