Segundo Diário do Brasil

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Na lua. Há 40 anos, o The New Work Times anunciava: Men walk on moon. Sim, em 20 de julho de 1969, os astronautas Neil Armstrong e Edwin Aldrin Jr., da missão norte-americana Apollo 11, passearam pelo mar da Tranquilidade. Armstrong dissera: “Este é um pequeno passo para o homem, um gigantesco salto para a humanidade”. Depois de 40 anos, o passo do homem, na Lua e na Terra, obteve formidáveis conquistas. Apesar disso, as desigualdades, provocadas pelos desequilíbrios sócioeconômicos, revelam que as mudanças, em favor da melhoria da qualidade de vida, no mundo, não corresponderam às conquistas alcançadas nesse período.

Belíndia e Ingana. Sobre o tema da desigualdade, um destaque para o economista Edmar Bacha que, um dia, chamou o Brasil de Belíndia e recentemente achou o nome inadequado. Disse: “A combinação de crescimento com estabilidade e programas sociais tem melhorado muito a parte `India´ do Brasil. Contudo, o mais correto hoje é usar o termo do Delfim Netto: Ingana. Um país que tem impostos da Inglaterra e serviços públicos de Gana”.

Outono do Patriarca. O mês não tem sido favorável para o senador José Sarney. Ele recebe acusações de todos os quadrantes. Teria beneficiado a Fundação Sarney; recebido auxílio-moradia mensalmente, embora tenha residência fixa em Brasília; seu nome está relacionado a irregularidades nas obras do aeroporto do Amapá e na participação de 663 atos secretos do Senado, envolvendo nomeações e exonerações sigilosas. O presidente Lula da Silva o defende com unhas e dentes, chegando a dizer que ele não pode ser considerado um homem comum. O velho patriarca maranhense rechaça todas as acusações: “Meu trabalho exige a sedimentação de uma profunda consciência moral de minhas responsabilidades”, disse ele, para um plenário de cinco senadores. Os demais 76 haviam se mandado.

Uma crise que não é de agora. Sobre a crise que, nesse mês, colocou o Senado em evidência, o empresário Paulo Cunha, presidente do conselho do grupo Ultra, diz em entrevista à imprensa: “A crise do Senado não é de agora, não é de ontem, não é da semana passada. Vem se desenhando há muito tempo. O Senado está sob holofote agora, mas, certamente, o mesmo holofote, colocado em outros órgãos, poderá trazer surpresas desagradáveis”. Em um trecho de sua entrevista, faz referência a algumas estatais:”Em grande parte elas estão privatizadas, não apenas por políticos regionais, mas por determinados partidos políticos”.

Pré-sal. Começa a esquentar o debate sobre o dinheiro que advirá da exploração do petróleo na camada pré-sal. O governo confirma que a exploração será feita por uma estatal criada exclusivamente para essa finalidade e que o óleo resultante das operações será dividido entre a nova estatal e as empresas que vencerem as licitações para desenvolver os campos, em um sistema de partilha. A guerra dos royalties entre municípios ainda não foi deflagrada. Prevê-se que será de vida ou morte.

Angra 3. O Tribunal de Contas da União (TCU), manda reduzir em R$ 120 milhões o contrato entre a Eletronuclear e a Construtrora Andrade Gutierrez, para a retomada das obras da usina nuclear de Angra 3, no Rio de Janeiro, interrompida nos anos 1980. O órgão apontou sobrepreço de R$ 301,3 milhões. Somente.

Acordo sobre Itaipu. Depois de 11 meses de negociações, os governos do Brasil e do Paraguai fecham acordo para acabar com a polêmica sobre a usina hidrelétrica de Itaipu. Pelo acordo, Itaipu financiaria US$ 90 milhões em obras pendentes, na margem paraguaia da usina, um mirante turístico, e a construção de uma linha de transmissão de 500 KW até Assunção, orçada em US$ 450 milhões. Adicionalmente haveria financiamentos do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Banco do Brasil para obras de infraestrutura no Paraguai. Coisa de hermanos.

Copa 2014. A edição de O Empreiteiro deste mês informa que o planejamento para as obras dos estádios esportivos, nas cidades-sede do Mundial de 2014 começa com atraso. Passado um ano, nada foi feito e há até a possibilidade de que algumas das obras, que deveriam ser permanentes, acabem sendo temporárias, o que significaria dinheiro a fundo perdido. O improviso continua a ser marca registrada da desfaçatez nacional.

 

Agosto

Museu no mar. O arquiteto Paulo Mendes da Rocha, prêmio Pritzker em 2006, foca sua arte para a terra natal, Vitória (ES). Elabora projeto para a construção de um museu de 3 mil m² – o Cais das Artes – composto por um teatro operístico com capacidade para 1.300 lugares e com cinco salões de exposição. O edifício debruça-se sobre o mar, numa estrutura que tem dois pilares de sustentação dentro d´água. Na prática, haverá uma sequência de espaços que parecem suspensos, com uma esplanada, segundo ele, “no canal de entrada do porto de Vitória”.

Estrangeiros nos aeroportos. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), lança a ideia de que empresas estrangeiras poderão deter até 100% do controle dos aeroportos do País. O governo articula um modelo para transferi-los à iniciativa privada. Os primeiros aeroportos que podem participar desse esquema de concessão seriam Viracopos, em Campinas, e o Tom Jobim, no Rio de Janeiro. Teoricamente a ideia surgiu no conjunto de iniciativas para acelerar as obras aeroportuárias para a Copa de 2014.

SP, 11 milhões. São Paulo, capital, tem agora, em números redondos, 11 milhões de habitantes. No mesmo levantamento, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), calcula o patamar atual da população brasileira: 191,5 milhões. Os caçadores obsessivos de votos estão atentos à seguinte estatística: o Estado de São Paulo possui 41,4 milhões de habitantes; Minas, 20 milhões e, o Estado do Rio, 16 milhões. São os maiores colégios eleitorais.

Lucro da Petrobras. Petrobras fecha o primeiro semestre com lucro de R$ 7,7 bilhões. O resultado é bem maior do que aquele calculado por analistas econômicos que o situavam entre R$ 5,6 bilhões a R$ 6,5 bilhões. O aumento, da ordem de 33%, é considerado um dos maiores conquistados pelas grandes empresas petrolíferas internacionais.

Capim na relva. Marina Silva, senadora pelo PT-AC, decide entrar na disputa presidencial para levar à frente a luta em favor do meio ambiente integrando o movimento civil Brasil Sustentável. Sobre eventuais desacordos com a política do Planalto, ela usou expressiva figura de linguagem: “Prefiro ser capim na relva do que bonsai num palácio”.

Lula e o Sinicon. Lula e quatro ministros comparecem à cerimônia dos 50 anos do Sindicato Nacional da Construção Pesada (Sinicon), no auditório da Confederação Nacional da Indústria, em Brasília (O Empreiteiro, edição 478). Faço aqui três registros do pronunciamento do presidente: prometeu novo PAC para o período 2011-2015; lamentou que a máquina de fiscalizar (leia-se TCU) seja, hoje, infinitamente mais poderosa do que a máquina de executar obras de engenharia e recorreu à seguinte frase de Celso Furtado em defesa do desenvolvimento: “O subdesenvolvimento não é uma fatalidade, e a miséria não é a nossa vocação”.

Trem-bala. A proposta de construção do Trem de Alta Velocidade ligando São Paulo ao Rio de Janeiro, com tempo de viagem previsto de 1h30 e frequência de três trens por hora ligando o Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas, ao Aeroporto Internacional de Guarulhos e, deste, ao Aeroporto Internacional “Tom Jobim”, levanta polêmica e dúvidas quanto a seu provável aproveitamento para a Copa de 2014. Além disso, prefeitos do Vale do Paraíba exigem que ele vá parando nas estações das cidades da região, o que lhe roubaria o conceito de “alta velocidade”. Mas o que causa espanto é o preço da obra: R$ 34,6 bilhões. Seria dinheiro demais para um trem, mas recurso suficiente para construir 170 km de metrô, com resultados sociais e econômicos mais amplos.

Ásia puxa recuperação global. A Organização Mundial do Comércio (OMC) está apontando a Ásia como a região que pode puxar a recuperação do comércio global. As estimativas são de que a China deve superar a Alemanha como o maior exportador do mundo. Por aqui, a Gerdau desistiu de paralisar a produção em um de seus altos-fornos – um indicativo da melhoria do mercado interno do aço e, por extensão, de outras atividades. O forno que poderia ser paralisado produz 1,5 milhão de t de aço.

Palocci é reabilitado. E aconteceu o previsível. O Supremo Tribunal Federal não encontra provas suficientes para processar o ex-ministro Antônio Palocci no caso de quebra do sigilo bancário de Francenildo Costa, aquele caseiro que denunciara incursões suspeitas, de políticos e empresários, em uma mansão, em Brasília. O caseiro, segundo alguns comentaristas políticos, não aprendeu o célebre ditado popular: “Manda quem pode; obedece quem tem juízo”. O ministro Marco Aurélio Garcia, um dos juízes contrários à decisão, admite: “A corda sempre estoura do lado fraco”. Para justificar a decisão, o ministro Gilmar Mendes pontifica: “O julgamento não foi moral, mas técnico”.

 

Setembro

A fundo perdido. O novo programa habitacional do governo, batizado com o nome de Minha casa, minha vida, passa a contar com R$ 10 bilhões para despesas a fundo perdido, conforme anúncio do Ministério do Planejamento. A expectativa do programa é tornar viável a aquisição de 1 milhão de casas populares, 400 das quais para famílias com renda até R$ 1.395,00 por mês.

O imortal de Alagoas. Bilac dizia que era imortal (pertenceu aos quadros da Academia Brasileira de Letras) porque não tinha onde cair morto. Diferentemente da brincadeira do poeta, ser imortal hoje significa estar muito vivo. O ex-presidente e atual senador Fernando Collor de Mello acaba de ingressar na Academia Alagoana de Letras, casa que grava, para a imortalidade, nomes como os de Aurélio Buarque de Holanda e do poeta e romancista Jorge de Lima, autor de Calunga, Guerra no Beco e de outras obras mais. Para fazer parte da galeria célebre, o ex-presidente apresentou um conjunto de artigos, discursos e planos de governos publicados em gráficas oficiais.

Infraestrutura. A Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) calcula que serão necessários, para este ano, investimentos da ordem de R$ 161 bilhões para projetos e obras em petróleo e gás, energia, transportes, logística, saneamento e telecomunicações. Nessa conta, a entidade deixa de incluir os investimentos para o Trem de Alta Velocidade e para as obras de construção da hidrelétrica de Belo Monte, até aqui ainda objeto de pendências. As fontes de financiamento seriam aquelas já conhecidas – BNDES, BB, CEF, fundos de pensão etc. -, numa escala em que os recursos para financiar os projetos tenham, nos empreendimentos, a garantia do próprio retorno.

Rodovias do futuro. O engenheiro elétrico norte-americano Scott Brusaw olha para o futuro e tem uma ideia: construir estradas cujo pavimento incorpore, além do asfalto, painéis solares para gerar eletricidade. A imprensa noticia que ele criou uma empresa, a Solar Roadways, a fim de demonstrar a viabilidade do projeto. Segundo os cálculos do engenheiro, uma rodovia solar de pista dupla pode gerar energia para suprir uma cidade de 5 mil habitantes.

Mudanças climáticas. As mudanças climáticas deixam o terreno das pesquisas meteorológicas e se encaixam na realidade diária. Os governos, nem todos, patrocinam estudos de obras que possam prevenir catástrofes. O Banco Mundial anuncia que pretende ver essa preocupação embutida nos planos de desenvolvimento futuro dos países para os quais tem feito financiamento. Calcula que nos próximos 20 anos, os países do Terceiro Mundo deverão arcar com despesas da ordem de US$ 475 bilhões com obras necessárias para fazer frente aos prejuízos que venham a ser ocasionados pelo aquecimento global.

“A era da estupidez”. Lançado o filme A era da estupidez, dirigido pela inglesaFranny Armstrong, com Pete Postlewhaite, destinado a mobilizar a opinião pública na oportunidade em que se cristaliza a possibilidade de um acordo global contra os gases-estufa, a ser sacramentado em dezembro, em Copenhague. O cenário é de 2055. Há catástrofes, guerra e a civilização entrando em colapso por conta das mudanças climáticas. No filme, a indagação: “Por que não nos salvamos quando tivemos chance?”

Um dia de caos. A capital paulistana registra 62,6 mm de precipitação pluviométrica no dia 9 deste mês. O Tietê transborda após quatro anos da execução do aprofundamento do leito, o que demonstra a ineficácia das obras que ali vão se sucedendo, dia a dia, mês a mês e assim por diante, todos os anos. Ambientalistas questionam as obras de ampliação da marginal, que eliminaram 18,9 hectares de área que ajudavam a drenar a água pluvial. Em Santa Catarina, ventos a mais de 100 km por hora causam devastação. No Paraná, a chuva ocasionou destruição em 58 cidades. O desequilíbrio climático bate à porta de todo mundo.

A denúncia, no editorial. O editorial da edição de setembro coloca o dedo na ferida: “O exemplo maior do que tem sido feito equivocadamente para se evitar os prejuízos das enchentes, talvez seja a cidade de São Paulo. Os erros não vêm da atual administração, nem da anterior ou de outras. Vêm do início do crescimento da cidade. Hoje e ontem, as várias admi
nistrações que se sucedem tentam corrigir os erros antigos, mas repetindo erros novos. E o erro fundamental é o seguinte: o crescimento corre solto, à frente do planejamento.” Assim, nunca haverá correção que dê certo.

TCU para obras do PAC. Tribunal de Contas da União (TCU) recomenda que 41 obras de infraestrutura, incluindo 15 do PAC, sejam paralisadas. De um conjunto de 219 obras que ele fiscalizou, incluindo algumas que não se encontram listadas nesse programa de crescimento do governo federal, apenas 35 passaram pelo crivo da fiscalização, sem o registro de alguma irregularidade. Dentre as obras que o tribunal pediu que fossem paralisadas estão: Refinaria Abreu e Lima (PE); reforma e ampliação do aeroporto de Guarulhos (SP); construção de ponte sobre o rio Madeira (RO)e as obras do aeroporto de Vitória (ES).

Luciano Coutinho. O presidente do BNDES defende um regime tributário e financeiro próprio para a cadeia produtiva do petróleo, pós-pré-sal. Prevê que serão necessários US$ 80 bilhões, nos próximos dez anos, para desenvolver a cadeia produtiva offshore, contando-se com os investimentos adicionais da Petrobras. Esse volume de recursosativaria o desenvolvimento de estaleiros e toda a infraestrutura correlata, estimulando também a construção de novas plantas industriais, além da ampliação da capacidade industrial existente.

Outubro

Corrupção. Ubiratan Aguiar, presidente do TCU, responde, em entrevista ao jornal FSP, do dia 5 deste mês, a algumas críticas feitas por empresários – e pelo governo federal – às ações do órgão fiscalizador. Diz que a corrupção está infiltrada nos diversos setores da atividade brasileira e que a função do tribunal é “dar um banho de cidadania”. Sobre a importância do TCU, foi rápido e contundente: “Em 2008 conseguimos uma economia de R$ 31,9 bilhões para os cofres públicos” (grifo nosso).

PIB em 2010. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro pode crescer de 4,5% a 7% em 2010. A previsão é do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas. O receio é de que, caso essa previsão venha a tornar-se real (crescimento de 7%), o Banco Central “puxe o freio da politica monetária em plena campanha eleitoral”.

Uma pedra no caminho. O presidente Lula da Silva não perde a oportunidade de, vez ou outra, farpear o TCU. Em evento no Palácio do Itamaraty refere-se a um empreendimento do PAC paralisado, porque alguns técnicos encontraram, no caminho das obras, uma pedra “meio arredondada, que poderia ser um machadinho indígena”. Após nove meses de paralisação, constatou-se que se tratava de apenas uma pedra comum. E indagou o presidente: “Com que direito alguém pode paralisar uma obra durante nove meses?”

Comparação polêmica. Deixando a pedra e o TCU de lado, a declaração presidencial mais polêmica do ano centraliza-se nas composições políticas em favor da governabilidade. Lula da Silva diz que qualquer um que venha a ganhar as eleições do próximo ano, para a Presidência da República, não conseguirá fazer a máquina do Poder andar se não estiver preparado para uma boa composição política. E mais: se Jesus viesse ao Brasil, e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalização.

Transposição do rio São Francisco. Manifestação de Dom Tomás Balduino, bispo emérito de Goiás e ex-presidente da Comissão Pastoral da Terra: “… os 70 mil açudes do Nordeste construídos nesses cem anos demonstram que lá não falta água. O que falta é uma rede de distribuição. Basta implantar um vigoroso sistema de adutoras, como o proposto pela Agência Nacional de Águas (ANA). Enquanto a transposição atenderia 12 milhões de pessoas em quatro Estados, o projeto alternativo atenderia 44 milhões em dez Estados, segundo custo que seria a metade do preço da transposição. As obras da transposição foram estimadas, originalmente, em R$ 4,5 bilhões.

Estradas brasileiras. Avaliação divulgada este mês pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) mostra que 70% das rodovias brasileiras se encontram em estado regular, ruim ou péssimo. A avaliação tomou, como base, 90 mil km de estradas, incluindo as pavimentadas federais e estaduais. A exceção, no conjunto, ficou para as estradas paulistas. Dos 8.200 km avaliados, 6.200 foram considerados ótimos.

Empresas de engenharia do ano. O Empreiteiro elege quatro empresas: Camargo Corrêa; Skanska do Brasil, MRV Engenharia e a Lenc Engenharia e Consultoria. Dentre elas, quero comentar a empresa mais antiga. Refiro-me á CC. Sebastião Camargo, nascidoem Jaú, interior paulista, começou a vida de empreiteiro transportando terra, durante construção de estradas, numa carrocinha puxadaà tração animal. Criou, com o advogado Sylvio Brand Coirrêa, a empresa que tem o seu nome. Aos 70 anos de atividades, a Camargo Corrêa é uma das maiores empresas de engenharia do mundo.

Novembro

Desconfiança. Emílio Odebrecht, em um de seus artigos semanais na imprensa, ressalta o que chama de “cultura da desconfiança”, o que estaria pautando, de certo modo, as relações entre os organismos de fiscalização do governo e as empresas e, mais amplamente, as relações entre empresas e sociedade. Reconhece que o Brasil vem pagando um preço muito alto por permitir que esse clima “de eterna suspeita” contamine a vida do País. Tem razão o empresário. Empresas e governo, quando unidos através de contratos para a construção de obras em favor da sociedade, precisam dar um basta nas distorções que geram a corrupção, e na corrupção que gera a “cultura da desconfiança”.

Copa e Olimpíada. Está decidido: o Brasil será a sede da Copa do Mundo de 2014 e, o Rio de Janeiro, da Olimpíada de 2016. Os três níveis de governos que devem organizar esses eventos esportivos preveem movimento de recursos da ordem de R$ 130 bilhões para melhorar rodovias, redes de metrô, ferrovias, aeroportos, mobilidade urbana e saneamento básico. Discute-se de onde sairá tanto dinheiro. E, saindo o dinheiro, como será feito o planejamento das obras, o gerenciamento dos trabalhos, a fiscalização do emprego dos recursos e – o mais importante – o legado dessas obras para a população. Porque a Copa e a Olimpíada passam. Mas a população fica.

Censura prévia. O fantasma da censura prévia insiste em rondar alguns veículos de comunicação. Abolida pela Constituição de 1988, tem sobrevida, por conta de eventuais decisões jurídicas de primeira ou segunda instância, em razão do incômodo ocasionado por denúncias que atingem alguns cidadãos que se julgam mais cidadãos do que os outros. A sociedade já dispõe de suficientes instrumentos, nos planos civil e penal, para se defender. Por isso, exorciza esse fantasma que tanto sobressaltou a cidadania, no regime ditatorial.

Belo Monte. Por mais que tudo pareça já ter sido dito sobre essa hidrelétrica, a ser construída no rio Xingu, a impressão é de que ainda faltam elementos de convicção para justificar o conjunto do projeto. De um lado, está o argumento do desenvolvimento do País e, de outro, as preocupações com os povos indígenas Juruna, Arara e Xikrin e com a preservação do meio ambiente. As respostas às dúvidas que estas questões vêm suscitando precisam ir além das propostas da engenharia, de modo a conferir credibilidade às anunciadas soluções das questões sociais e ambientais.

Ainda a transposição. Engana-se redondamente quem imagina a transposição do rio São Francisco como a solução de todos os males da falta de água no semiárido brasileiro. O Atlas Nordeste, da Agência Nacional de Águas (ANA), indica que três, em cada quatro municípios da região, correm o risco de desabastecimento nas áreas urbanas, caso até 2025 – e essa data não está tão distante assim no horizonte – não sejam investidos ao menos R$ 9,2 bilhões em obras complementares de engenharia. O diretor-presidente da ANA refere-se a uma rede de distribuição de água que inclui instalação de adutoras e estações de tratamento, além da gestão eficiente do processo nos Estados receptores: Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte.

Falha na engenharia. Três vigas pré-moldadas de um viaduto em construção no trecho Sul do Rodoanel despencaram dos encaixes dos pilares e bloquearam o tráfego na rodovia Régis Bittencourt, no município do Embu, atingindo três veículos. Era meia-noite e não houve vítimas fatais. A Dersa, responsável pela obra, informa que disponibiliza 400 funcionários para ajudarem no monitoramento da obra. É gente demais para fiscalização de menos.

Lévi-Strauss. Morre, aos 100 anos, em Paris, Claude Lévi-Strauss, o homem que lançou as bases da antropologia moderna e autor, dentre outros, do livro Tristes Trópicos, onde narra as experiências acumuladas ao longo de expedição pelo interior do Brasil na década de 1930. Ele integra o quadro de intelectuais que criaram a Universidade de São Paulo. Ao saber da morte dele fui à estante e reli De perto e de longe, conjunto de reflexões no diálogo que manteve, já longevo, com o jornalista Didier Eribon. Lévi-Straus teve a dimensão do século. Sua cultura cobriu uma vasta área da inteligência humana e é dele uma interpretação, julgada a mais correta, de maio de 1968: “Não acho que maio de 68 tenha destruído a universidade; acho, antes, que maio de 68 aconteceu, porque a universidade se destruía”

 

Dezembro

Apagão. Continua, amplificada, a repercussão do blecaute, ocorrido no mês passado, que deixou 18 Estados às escuras. Ele afetou o abastecimento de água, causando prejuízos a 6,7 milhões de pessoas na Grande São Paulo, a 1 milhão no Rio de Janeiro e a 575 mil no Espírito Santo. Causou, até, o desligamento das usinas nucleares de Angra 1 e 2. De início, o governo o atribuiu às condições climáticas. Depois, recuou, diante das evidências técnicas. O que houve foi uma interrupção na distribuição de energia. Uma falha impediu que o mecanismo, capaz de “ilhar”o ramal com problema, funcionasse. A energia prosseguiu sendo transmitida e, para não ocorrer uma sobrecarga, a usina de Itaipu se desligou.

Corrupção escancarada. Não houve meio-termo, sequer uma tentativa de despistamento. Empresários e políticos foram flagrados em plena ação, no Distrito Federal, entregando ou recebendo dinheiro, alguns colocando as cédulas na bolsa, na cueca ou nas meias. O vexame, em vídeo para todo o País, arrancou o ex-senador José Roberto Arruda (DEM-DF), da cadeira de governador, para a cadeia.

Saneamento. Nessa matéria, o governo não consegue se encontrar. Do volume de R$ 40 bilhões reservados para emprego em obras no período 2007-2010, só desembolsou mesmo 15%. O dinheiro existe, mas as concessionárias de águas e esgotos não conseguem botar-lhe a mão. Faltam projetos e, assim, por conta disso, fica difícil elaborar corretamente os planos para justificar a obtenção de financiamento.

Malha ferroviária. A Confederação Nacional dos Transportes (CNT) informa que o Brasil vai precisar de R$ 54,5 bilhões para obras ferroviárias até 2025. A rede ferroviária nacional, que hoje possui 29.817 km, terá de ser ampliada para 40.827 km, se quiser dar conta da demanda de passageiros e cargas. Um fato, um simples fato, talvez demonstre porque não será fácil alcançar esse objetivo: a Transnordestina, essencial no aumento da malha ferroviária, e que deveria ser concluída até fins de 2010, talvez não fique pronta sequer em 2012.

Janeiro, 2010

Tragédia em Angra e em outras cidades. A camada superficial do solo se mexeu com as chuvas e deslizou com pedras e árvores soterrando uma mansão e outras casas, na Ilha Grande, em Angra dos Reis, Estado do Rio. Chuvas torrenciais provocaram também destruição em cidades paulistas, dentre elas, Cunha, Guararema e Bofete. Na histórica São Luiz de Paraitinga foram arruinados centenas de imóveis de um conjunto arquitetônico representativo da época em que a exportação do café fazia a riqueza da região. Na cidade de São Paulo houve uma repetição monótona do que acontece, todos os anos, na grande capital. Desta vez, uma nota curiosa: O Jardim Pantanal ficou literalmente submerso no esgoto e, a população, entregue à própria sorte. A edição do mês de O Empreiteiro saiu com as seguintes chamadas: Infraestrutura obsoleta pede socorro. Chuvas excepcionais mostram falhas na manutenção e falta de monitoramento.

Requiém para o Haiti. Um terremoto na magnitude 7 da escala Richter provoca destruição e centenas de mortes no Haiti, arrasando sobretudo a capital, Porto Príncipe. O Brasil e outros países integrantes da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah) têm papel importante no trabalho para socorrer a população e dar alguma racionalidade aos esforços para minimizar a debacle social. Estudiosos dos problemas históricos desse pequeno país identificam duas reações principais nas explicações para esclarecer o abismo causado por aquele fenômeno natural. Primeiro, tentou-se responsabilizar a natureza e, depois, os próprios haitianos pelo caos que se seguiu ao terremoto. A assertiva era de que a população local se revelara incapaz de construir um Estado organizado. E, sem um Estado organizado, como reagir para se contrapor aos estragos? Pura hipocrisia. Se o Haiti não dispõe de um Estado organizado, não é culpa unicamente deles, mas de uma política internacional perversa que submeteu aquele povo a sucessivas administrações despóticas e corruptas.

Usinas nucleares. O programa nuclear brasileiro, pelos dados disponíveis até aqui, prevê a construção de mais quatro usinas nucleares de 1.000 MW até 2030. Serão duas no Nordeste, possivelmente às margens do velho Chico e, outras duas, no Sudeste. As usinas no Nordeste talvez comecem a ser construídas em 2014, época em que deve ocorrer a inauguração de Angra 3.

 

Fevereiro

Belo Monte. Acaba de sair a licença prévia do Ibama para a construção desta usina que há três décadas tem dado o que falar. Localizada no rio Xingu, nasceu polêmica com o nome indígena de Cararaô e não há indícios de que algum dia deixe de ser polêmica. Estigmatizado por ambientalistas, o projeto original foi refeito, com a previsão de inundar um terço da área inicial (516 km²), especificando a adoção da tecnologia de geração por fio d´água, que usa reservatórios menores. A capacidade (11.233 megawatts) continua a mesma.

Concessão ferroviária. O governo revela disposição de mudar o modelo de concessão ferroviária. Paulo Sérgio Passos, hoje secretário-executivo do Ministério dos Transportes, diz: “O que se prevê é uma nova modelagem para os trechos de ferrovia que se encontram em construção, separando as responsabilidades pela construção e pela operação. Teremos ferrovias abertas e, com isso, um sistema mais eficiente e competitivo”. O Brasil tem hoje 11 concessões ferroviárias administradas por grupos privados. A rede total soma 29 mil km e é controlada pela Vale, All Logística, MRS, Ferrovia Tereza Cristina e Ferrovia Transnordestina, controlada pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).

Liberação de recursos. O governo federal liberou R$ 13,1 bilhões para quatro obras da Petrobras que, para o TCU, apresentavam irregularidades: as refinarias Abreu e Lima (PE) e Presidente Getúlio Vargas (PR), o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro e o terminal de Barra do Riacho, no Espírito Santo. A oposição no Congresso chiou. Mas, como sempre, ficou apenas no chiado.

Visão de um projeto brasileiro. O professor Luiz Carlos Bresser Pereira fala, em artigo publicado na FSP, da morte do cientista político Gildo Marçal Brandão. E extrai, da análise da vida de Gildo, lições para dizer que o projeto do desenvolvimento brasileiro não pode ser apenas democrático, mas precisa ser também social e nacional. “A inserção do Brasil no cenário global não se faz pela submissão aos países ricos, mas pela construção, entre nós, de uma sociedade mais justa e pela competição bem-sucedida com os países mais desenvolvidos”, ensina ele.

Encontro com Pagot. Foi um encontro bom, na sede do Departamento Nacional Nacional de Infraestrutura de Transportes, em Brasília. Economista, ex-secretário de Infraestrutura do Estado do Mato Grosso, Luiz Antônio Pagot, diretor-geral do DNIT, revelou intimidade com todos os assuntos do departamento. Avançou nas considerações do que acha de melhor para o País, em termos de transportes e disse que, se quisermos crescer, devemos partir para a multimodalidade. Não se concebe mais, hoje em dia, um modelo de transporte apoiado apenas no chamado rodoviarismo. O Brasil tem de agregar todos os modais em favor de sua economia e de sua população. A íntegra da entrevista com Pagot está na edição 483 deste mês de O Empreiteiro.

 

Março

Do Haiti ao Chile e ao Brasil. Depois do Haiti, o Chile. E, seja onde for que terremoto aconteça, expõe a impotência humana diante da tragédia. Fala-se de um movimento de convergência, que levou a placa de Nazca e a placa Sul-Americana a se deslocarem. O encontro produziu uma fricção da qual resultou a liberação da energia, traduzida em terremoto, segundo os dados, na escala 8.8. Contado assim, o fato parece uma narração sem grandes lances. Mas a ocorrência abalou a estrutural territorial chilena. Grandes edifícios e obras importantes da infraestrutura viraram pó em apenas alguns segundos. Autoestradas balançaram e viadutos e pontes ficaram em ruínas, soterrando carros e gente. Os abalos destruíram centenas de residências, deixando ricos e pobres sem teto e sem rua. A escritora Ana Maria Machado, que andava por Santiago representando a Academia Brasileira de Letras, disse à imprensa que, em meio ao tumulto ocasionado pelo abalo sísmico, todos os cachorros do mundo pareciam latir ao mesmo tempo. Enquanto isso, por aqui, vamos vivendo o cotidiano brasileiro: uma rodovia da importância econômica da Fernão Dias fica fechada no sentido SP-MG; 7,7 t de peixes mortos são retirados da Lagoa Rodrigues de Freitas, no Rio de Janeiro; políticos montam estratégias em cima de uma pesquisa eleitoral fora de época e já preveem gastos astronômicos para se empoleirarem no poder. E um arquiteto, Jonas Rabinovitch, divulga que o mundo desperdiça, por ano, US$ 1,5 trilhão em quê? – Em corrupção.

A cidade de Niemeyer em BH. Aécio Neves inaugura a Cidade Administrativa “Tancredo Neves”, projetada por Niemeyer, em BH, para onde transfere a administração estadual. As antigas instalações, que ao longo de 112 anos, desde a fundação da bela capital mineira, funcionavam no Palácio da Liberdade, privam agora de uma sede distribuída em cinco edificações. Destas, a principal é o Palácio Tiradentes, com cinco pavimentos, de 147,5 m x 26,60 m, suspenso por tirantes protendidos. A escolha do dia 4 de março para a inauguração não foi aleatória. E o que seria aleatório, em se tratando da política brasileira? Trata-se da data do centenário de Tancredo Neves, falecido em 1985, fato que provocou comoção nacional e alterou o roteiro político do País, cuja presidência caiu nas mãos de José Sarney. Sobre críticas segundo as quais a cidade administrativa significaria um olhar de Niemeyer para o passado, José Carlos Sussekind, calculista da obra, responde: “É um projeto cuja gênese contemplou uma lúcida análise com olhos voltados para o futuro. Situada em um dos pontos extremos da região metropolitana, a cidade administrativa é o catalisador final que se soma ao vizinho aeroporto internacional, à via expressa que os interconecta e à disponibilidade de terras que abrirão o caminho para a expansão urbana e o crescimento da Grande BH.” – O projeto fecha um ciclo histórico da obra de Niemeyer em BH, inaugurado com as obras da Pampulha, na época em que um jovem político – JK, então prefeito de BH – ele, jovem arquiteto – deram-se as mãos,
na perseguição de um sonho. E mudaram o Brasil.

Serra e Dilma. Os dois pré-candidatos (pré, por questão legal, pois na prática a hipocrisia se anula) ensarilham as armas e partem para a campanha. No caso de Serra, será em SP que funcionará s força logística da campanha, enquanto o comando politico situar-se-á em Brasília. Dilma monta esquema com os velhos companheiros. À frente estarão José Eduardo Dutra, ex-presidente da Petrobras, e Antônio Palocci, que durante algum tempo foi mantido na sombra, por causa das acusações de um caseiro-cidadão. Dilma terá de lutar muito para livrar-se da pecha de candidata postiça.

A falácia do PAC 2. O governo lança hoje (29 de março) a versão 2 do PAC. A ideia é amarrá-lo de tal modo, que a próxima administração federal não tenha como desamarrá-lo e, assim, provocar-lhe descontinuidade acaso desastrosa. A ideia seria boa, caso o programa atualmente em curso, o PAC 1, não apresentasse tantos furos e não estivesse, do ponto de vista de prazo, já comprometido. Lastimavelmente esse tipo de programa tem uma marca de nascença: o interesse eleitoreiro. Nessas circunstâncias, seus responsáveis têm duas tarefas imediatas a cumprir junto à opinião pública: erradicar essa marca e provar, todos os dias, obra a obra, que ele não é uma falácia.

Abril

Leilão de hidrelétricas. O governo resolve leiloar 13 hidrelétricas este ano. Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), diz que haverá dois leilões. No primeiro, previsto para junho, deverão sair as seguintes hidrelétricas: Colíder (MT); Santo Antônio do Jari (PA/AP); Ferreira Gomes (AP); Garibaldi (SC). Ribeiro Gonçalves (PE); Cachoeira (PI); Castelhano (PI); Estreito Parnaíba (PI) e Uruçu (PI). No segundo leilão, previsto para o segundo semestre, serão leiloadas: Teles Pires (MT); São Manoel (MT); Sinop (MT) e Foz do Apiacás (MT).

Desistência de Belo Monte? Noticia-se a desistência da Odebrecht e da Camargo Corrêa de participação
Fonte: Estadão


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